Por Élson de Souza, de Austin (EUA)

Engana-se quem pensa que os e-sports estão atraindo apenas a atenção dos fãs de videogame ao redor do mundo. A McLaren, tradicional equipe da Fórmula 1, anunciou nesta sexta-feira, 19, a segunda fase do Shadow Project. Desenvolvido em parceria com a Dell e a Alienware, o programa tem como objetivo treinar e montar uma equipe campeã de atletas de jogos de automobilismo no PC, consoles e celulares. A apresentação foi feita na cidade de Austin (EUA), sede da Dell, onde o Olhar Digital esteve presente e conversou com os responsáveis pelo projeto. 

De forma geral, o Shadow Project é uma espécie de academia de pilotos virtuais da McLaren. O projeto nasceu como uma evolução do campeonato mundial feito pela empresa em 2017, vencido pelo holandês Rudy van Buren. Neste ano, porém, a iniciativa ficou maior, contando com etapas presenciais e evento presenciais desde agosto em regiões como China, América Latina e Oriente Médio.
A McLaren afirma ainda que o Shadow Project é multiplataforma e multijogo. Ou seja, podem participar jogadores de computadores (PC), consoles como o Xbox One e PlayStation 4, celulares Android ou iPhone e até de realidade virtual, desde que tenham idade acima de 18 anos. Entre os games participantes da competição estão títulos como Forza Motorsport 7, Real Racing 3, Project Cars2, iRacing e rFactor 2.

As etapas finais do projeto estão previstas para janeiro do próximo ano, na sede da equipe de automobilismo, no Reino Unido. Nesta fase, os finalistas terão que passar por testes de cognição e performance para demonstrar atributos como conhecimento de engenharia automobilística, capacidade de trabalhar em equipe e preparo mental e físico. O vencedor fará parte da equipe de e-sports de 2018 da montadora.

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Muito além de um treinamento nos jogos

Enquanto o cenário de competições amadoras é ilustrado por jogadores passando horas e horas em frente ao PC ou televisão, o Shadow Project propõe uma profissionalização do e-sports. A equipe da McLaren passará pelas mãos de diversos profissionais das mais diferentes áreas, incluindo educadores físicos e nutricionistas. A ideia é que o atleta de jogos eletrônicos tenha a rotina de treinamento e acompanhamento similar a qualquer outro profissional de categorias tradicionais.

Vencedor do primeiro campeonato de videogames da McLaren, o holandês Rudy van Buren participou do projeto piloto de treinamento da equipe ao longo de 2018. Neste período, o atleta de jogos eletrônicos passou por uma mudança completa em sua dieta, perdeu quase 9 kg e fez treinamento em academia para melhorar sua força física. Tudo isso, segundo o jovem, fez com que o seu desempenho nas plataformas virtuais melhorasse.

Durante este ano, o jovem holandês também pôde participar de atividades fora dos videogames, sendo apresentado como piloto virtual da equipe de Fórmula 1. Nesta sexta-feira, 19, durante os intervalos dos treinos livres do GP dos Estados Unidos, o rapaz também teve a oportunidade de pilotar um carro de verdade nas pistas do Circuitos das Américas, em Austin, Texas. “Hoje eu estou aqui me apresentando como atleta, mas há exatamente um ano eu estava apenas administrando a loja para qual eu trabalhava”, contou.

Fusão entre o mundo real e virtual: o lado estratégico do e-sport

Além de embarcar na popularidade meteórica dos e-sports, a McLaren afirma ainda que o Shadow Project tem como objetivo trazer conhecimentos e experiências obtidas no cenário virtual dos jogos para o mundo real. “A McLaren é uma empresa que sempre foi movida por dados. E a melhor parte deste programa é que as informações obtidas tocam em todas as nossas atividades”, disse Henry Chilcott, diretor de marketing da equipe, em coletiva nesta sexta-feira em Austin, nos Estados Unidos.
Além de informações relativas à forma de dirigir dos atletas, a McLaren também utiliza informações como o rastreamento do campo de visão dos pilotos virtuais para melhorar a performance do seu time de Fórmula 1. No entanto, os e-sports também contribuem para testes de natureza comercial.

Segundo Chilcott, as competições de jogos eletrônicos são uma ótima forma de descobrir o que deixa os fãs da montadora empolgados para transpor isso para o mundo real.

Quem concorda com essa estratégia é o chefe global de mídias digitais e licenciamento da Fórmula 1, Frank Arthofer. “Um jogo Madden é atualmente a melhor forma de fazer um novo fã do campeonato de futebol americano. E é o mesmo com a Fórmula 1”, disse. O executivo destacou ainda que, ao contrário das demais categoria de esporte, o automobilismo oferece uma experiência virtual ao jogador muito similar ao que este encontraria como piloto na vida real.

Para o seu programa de e-sports, a McLaren também fechou uma parceria com a Alienware para o fornecimento de computadores de última geração para o treinamento dos atletas. A subsidiária da Dell já é parceira da equipe na Fórmula 1, fornecendo os simuladores para os pilotos e computadores que captam e analisam todas as informações do desempenho dos carros na pista. Para Frank Aznor, vice-presidente da Alienware, o envolvimento nos e-sports é estratégico para qualquer empresa.

“Eu acredito que o e-sport será a categoria esportiva mais popular do mundo em breve”, disse o executivo. Frank afirma ainda que a demanda por esportes eletrônicos tem crescido e que saber compreender bem o mercado tende a dar uma vantagem competitiva para a empresa. “Os dados obtidos são essenciais para que nós consigamos a configurar nossas máquinas melhor e a aprender o comportamento dos nossos consumidores”.

O repórter Elson de Souza viajou à convite da Dell