A Apple tem feito grandes e silenciosos investimentos no setor de audiovisual dos Estados Unidos com o objetivo de lançar um serviço de streaming para competir com a Netflix num futuro próximo. Mas uma reportagem publicada no The Wall Street Journal do último fim de semana mostra que a empresa quer fazer sucesso no ramo seguindo os seus próprios termos.

De acordo com produtores que negociaram séries originais com a Apple, a empresa não está interessada em produções com sexo, violência ou drogas. A ideia é manter distância de conteúdo considerado “maduro” e focar em programas para toda a família, segundo pessoas próximas ao assunto que não quiseram se identificar.

Uma história contada pelo WSJ é a de “Vital Signs”, uma série parcialmente baseada na vida do produtor e rapper Dr. Dre, que foi mostrada a Tim Cook e outros executivos de alto escalão da Apple cerca de um ano atrás. No entanto, a produção foi recusada. “É muito violento”, teria dito o CEO da empresa. “A Apple não pode exibir isto.”

A empresa parece ir na contramão das concorrentes. A Netflix, por exemplo, começou a fazer sucesso com séries originais como “House of Cards” e “Orange is the New Black”, ambas recheadas de conteúdo adulto. O Amazon Prime Video, outro concorrente no setor de streaming, também aposta em produções mais maduras como “American Gods” e “Electric Dreams”, entre outras.

publicidade

Zack Van Amburg e Jamie Erlicht são os produtores contratados pela Apple para caçar novas séries para o vindouro serviço de streaming da empresa. Segundo o WSJ, os dois respondem diretamente a Tim Cook e Eddy Cue, que lidera todos os investimentos em serviços, incluindo o Apple Music e o iTunes.

-> Netflix: história, preços e como usar o serviço de streaming de vídeo

Amburg e Erlicht já teriam conseguido convencer os dois chefes da Apple a assinar contrato com algumas produções um pouco mais “adultas”. Um exemplo é uma série de suspense produzida por M. Night Shyamalan sobre um casal que perde uma filha. Mas antes de assinar o contrato, Cook e Cue pediram que todos os crucifixos espalhados pelo cenário da série fossem removidos.

“Os executivos deixaram claro que eles não querem programas que se aventuram em assuntos religiosos ou políticos”, descreveu uma fonte. A grande maioria dos projetos aprovados até agora são de comédias, romances ou reality shows, como “Planet of the Apps” e “Carpool Karaoke”, que já são exibidos por meio do Apple Music.

Porém, uma agência de talentos contou que, numa reunião com representantes da Apple, a empresa não pareceu interessada em censura. “Não editem a si mesmos. Nós somos a Apple, e queremos agitar as coisas”, foi como um dos agentes descreveu o sentimento da empresa. Porém, Amburg e Erlicht logo teriam esclarecido que “a Apple está aberta a tudo e qualquer coisa, desde que não haja violência ou nudez gratuitas”.

A Apple não quis comentar a reportagem do WSJ. Mas não é de hoje que a empresa chama a atenção por manter um certo “puritanismo” em seus serviços. Steve Jobs recebeu críticas de alguns e elogios de outros por deixar claro que a App Store, a loja de aplicativos do iOS, vetaria qualquer tipo de programa voltado a pornografia. Em 2010, ele chegou a dizer que “quem quer ver pornô pode comprar um celular Android”.